Título Original: A Clockwork Orange
Autor: Anthony Burgess
Editora: ALEPH
Ano: 2004
Páginas: 191
"— Então, o que é que vai ser, hein?”
“Laranja
Mecânica” é um livro tão bizarro quanto seu título. E isso é ótimo. Título que
pra mim, fez o maior sentido do mundo ao término da leitura. Um livro chocante,
absurdo e genial em proporções épicas. Não é à toa que é considerado um dos
melhores romances do século XX. Burgess cria um futuro cruel onde os principais
causadores da “ultraviolência” são os jovens.
Alex
é o líder de uma gangue futurista. Junto com os amigos adolescentes Georgie,
Pete e Tosko, pratica assaltos, espancamentos e estupros livremente pelas ruas
de uma Londres decadente. Um dia, Alex vai longe demais e, involuntariamente,
comete um assassinato. Preso, sua única chance de liberdade é participar como
cobaia de uma experiência para eliminar tendências criminosas. Uma experiência
extremamente dolorosa e tão desumana quanto a ultraviolência que o próprio Alex
costumava praticar.
O
futuro segundo Burgess não é nada utópico. É violento ao extremo. Percebe-se
durante a leitura do singular “Laranja Mecânica” que existe até um “toque de
recolher” inconsciente. A população sempre desconfiada e esperando pelo pior.
Fica claro isso durante as aventuras do “Nosso Humilde Narrador”, como ele
refere-se a si mesmo, Alex e sua gangue. As cidades largadas, dominadas
pela violência dos jovens, que supostamente deveriam ser o futuro da
civilização.
Alex,
nosso humilde protagonista é do mais alto grau de maldade. Dissimulado,
egocêntrico, com um humor negro e ácido (o que é ótimo pra rir um pouco das
suas tiradas durante o livro), desleixado. Completamente louco Alex cativa com
seu protagonista-vilão. Ele consegue ser dissimulado até com o leitor sempre o
chamando de “amigo” e referindo-se a si mesmo como “pobre, humilde”. Porém
é um trabalho quase impossível sentir pena de Alex. Talvez apenas no último
capítulo, em uma reflexão até filosófica sobre a juventude (e o fim dela).
Entra aí a explicação (pelo o que entendi) do por que o nome vem a ser Laranja
Mecânica.
E
apesar de ser um livro chocante, mostrando outra realidade, reflexões são o que
não faltam. Tanto no livro quanto para o próprio leitor ao lê-las. Alex
discernindo sobre o “bem e a ‘outra loja’” é sem dúvida uma das partes mais
sensacionais do livro, trecho esse em que Alex diz se considerar um verdadeiro
revolucionário, por ir de encontro ao governo e à sociedade, sendo mau, sendo
ele. O capítulo final tem um discurso atemporal sobre o “ter que crescer” que
serve para épocas tanto antigas como a nossa. Muito bem escrito por Burgess,
diga-se de passagem, que faz um jovem, ao ler o livro, pensar sobre seu próprio
ser.
O
livro tem um caráter crítico também. Mesmo se passando no futuro, a crítica ao
governo será sempre atual. O governo de Laranja Mecânica é controlador e
alienante e ao mesmo tempo descontrolado. A cidade não está em seu poder.
Encontra-se mal cuidada, violenta. A finalidade do tratamento de Ludovico, pela
qual Alex passa é deixar o sujeito sem poder de escolha. O governo quer criar uma realidade utópica, mas ao
final do livro, só se vê que o governo quer ter o controle de tudo e todos, de
uma forma nada agradável, mas infalível (ou não, como prova Alex).
Burgess
cria um mundo só seu. E uma língua também. A sacada de inserir gírias para os
adolescentes do futuro foi ótima. Mas Burgess não podia usar gírias da época afinal,
gírias só são gírias, pois estão em constante mudança. Então com uma junção
muito bizumni (louca) criou o dialeto
Nadsat (adolescente). Burgess misturou palavras russas, inglesas e do dialeto cigano,
criando mais de 200 gírias e as introduziu no livro. Afinal o autor queria
causar essa sensação de estranheza no leitor (como Alex e seus druguis são adolescentes, isso fazia o
maior sentido).
Hoje,
a ultraviolência do livro pode não
chocar tanto mais. Porém nada que diminua a genialidade da obra, que por mais
que já tenha 50 anos, continua sendo muito atual. Os personagens individuais, a
história, a maneira estranha e um pouco difícil (depois nos acostumamos, mas ao
começo é bem chocante) de se contá-la, e mesmo assim muito interativa com o
leitor… este livro se tornou um dos meus favoritos. Laranja Mecânica nasceu pra
ser atemporal.
Mas,
por que Laranja Mecânica?
Em
toda a parte que se for pesquisar e até mesmo no prefácio do livro, está
escrito que Burgess colocou esse nome no livro por conta de uma gíria: “as queer as a clockwork orange” que significa “tão estranho quanto uma laranja mecânica”. Não discordo disso. Mas
Alex, ao último capítulo em sua reflexão sobre a juventude, explica que a
sociedade sempre será daquele jeito. Os jovens sempre serão arruaceiros,
malvados, perversos. Por mais que seus pais não permitam, briguem, não conseguirão
conter os filhos. E os seus filhos passariam por isso, pois não conseguiriam
controlar os filhos deles. E o mundo seria assim pra sempre, girando, como uma
laranja girando nas mãos de Deus, uma laranja sempre com as mesmas histórias
mecânicas.
Essa
sugestão poética me agradou muito. E de certa
forma é exatamente como Alex diz.
O
final de Laranja Mecânica é um tanto curioso. É um final digno para o livro. E
nesse capítulo sim conseguimos sentir certa pena de Alex. Ele ao mesmo tempo
precisava e queria crescer. Essa mensagem final ao mesmo tempo em que é um
pouco contraditória com a história do livro, diz também que tudo uma hora
acaba. Até mesmo aquele sentimento do Alex, que amadurece. Uma metáfora clara
(tanto que nem chega a ser uma metáfora) para o crescimento. Uma hora todos nós
temos que crescer.
“Laranja
Mecânica” é um livro, sem dúvida nenhuma, sensacional e completo. Uma história
que vale a pena conhecer.
Olá Bruna!!
ResponderExcluirEstou visitando a partir de sua indicação no skoob e adorei seu blog! Uma graça, e cheio de informações! Parabéns.
Sobre este livro, sempre quis lê-lo mas ainda não deu. Está na minha lista!
Beijos. Boas leituras.
Obs. estou seguindo aqui. se puder me visitar também agradeço muito! *.*
http://escrev-arte.blogspot.com.br
Ops!!! Retirando os créditos da Bruna, e repassando-os ao Rudy Ribeiro!!!! Desculpe!!! Hahaha
ResponderExcluirBeijos! Sucesso ao blog! (:
Hahahaha, obrigado :)
ResponderExcluirOie :)
ResponderExcluirEstou morrendo de vontade de ler esse livro, só que estou com medo de ficar doido durante a leitura kkkkk, amei a resenha beijão !!!
http://euvivolendo.blogspot.com.br/ ( comenta lá :D )
Hahahah
ExcluirO livro é muito bom e acho que não enlouqueci durante a leitura (só acho), portanto pode ler tranquilo hahahaha
Respondendo sua mensagem no skoob já estou seguindo seu blog, maneiro!!!
ResponderExcluirSobre o livro super sinistro nunca li!
Dani Casquet
livrosajaneladaimaginacao.blogspot.com