Geralmente, procuro postar críticas de filmes adaptados de livros, afinal o foco maior do blog está nos livros. Entretanto Dentro da Casa é especial. O filme não é baseado em um livro, mas toda a sua ambientação é dentro de um "quase-livro".
Nome Original: Dans La Maison
Diretor: François Ozon
País: França
Ano: 2013
Gênero: Suspense
Sinopse: Germain (Fabrice Luchini) é um ranzinza professor decepcionado com sua vida profissional. Ao passar pra sua classe uma proposta de redação, ele subitamente se interessa por seu aluno Claude (Ernst Umhauer) e seu jeito de escrever e misturar o real ao imaginado. Vendo que o rapaz tem talento, começa a ajudá-lo na escrita, enquanto Claude praticamente se infiltra na casa e na vida de um colega de classe, afim de escrever sobre os mesmo e sua família, gerando até uma certa obsessão tanto de Claude quanto do professor pela história.
O filme começa de um jeito simples, mas assim como a redação de Claude seduz seu professor, o filme faz o mesmo com o telespectador.
Claude é um exímio escritor iniciante, isso fica óbvio quando pois ainda é aluno, e uma vez dentro da tão almejada casa do título, acaba ficando obcecado, tanto por ela, quanto pela "família normal", como o mesmo se refere, que vive ali. Claude traz a representação do narrador para a tela. Um narrador ao mesmo tempo personagem e onisciente. É interessante ver o narrador, figura quase divina em um livro, em carne e osso. Claude está lá narrando o que vê e o que ouve, e ainda que por vezes pareça perceptível, não é descoberto. Anda pela casa como um anjo (ou um demônio?), um voyeur quanse invisível, entretanto tangível.
O professor Germain além de ser o mentor de Claude, ensinando-o a conduzir a "história", representa também o leitor. Seus sentimentos durante as leituras, o desejo de mudar algo que estava ali, a angústia... são coisas que qualquer leitor sente. Quando em diversas cenas Germain "adentra" os ambientes escritos por Claude, é como a imersão do leitor. Durante o filme, Germain se mostra tão obcecado na história quanto seu aluno, buscando diversos meios de continuá-la. Ele não consegue largá-la (é boa demais pra fazer isso). Fica claro na cena em que Claude é proibido pelo professor de escrever e joga a folha escrita no lixo. Germain, na ausência do aluno, resgata a folha do lixo.
O filme tem ótimas atuações, entretanto Ernst Umhauer (Claude) e Fabrice Luchini (Germain) se sobressaem, a química entre os dois é perfeita. Ernst representando muito bem seu Claude por vezes doce, amargurado, por vezes com uma aura até maligna. Fabrice trazendo um personagem também amargurado e rabugento, está igualmente ótimo. Além do também sublime trabalho dos atores coadjuvantes.
É interessante perceber que o roteiro (muito bem escrito) deixa brechas para o próprio telespectador interpretar. As motivações dos personagens é um belo exemplo. Não fica clara a razão de Claude se infiltrar na casa de Rafa: queria ele tomar o lugar de "Rapha-filho" ou "Rapha-pai"? Talvez até dos dois? Germain, por que ajuda Claude? Por vê-lo como um filho? Ou talvez por ver-se no rapaz? Além dessas suposições, o maravilhoso roteiro também nos confunde. O que seria real, dentro da narrativa, e o que seria imaginado? As duas realidades misturam-se diversas vezes, essa é uma das grandes sacadas do filme. Encaminhando-se para o final o filme fica mais sombrio, tal como seu personagem principal. Vale destacar também a maravilhosa trilha sonora.
O final talvez desloca-se do restante do filme, parecendo um pouco sem sentido. Entretanto parafraseando Germain em determinada cena do filme: "Sabe qual é o segredo de um bom final? O leitor precisa pensar 'Não esperava por isso e ao mesmo tempo era o único modo de terminar'". O leitor aqui pode ser facilmente compreendido como telespectador, afinal Germain não ditava Claude a escrever a história e sim como conduzi-la, fazendo do filme quase metalinguístico. O final foi de fato inesperado e talvez, realmente, era o único modo de terminar.
Espero que tenham se interessado pelo filme, pois a película é excelente e realmente vale a pena. Abaixo , um trailer do filme (apesar de ser bem instigante, o trailer mostra uma cena-spoiler bem deliciosa de se descobrir, portanto, assista por sua própria conta e risco). Até a próxima :D
O final talvez desloca-se do restante do filme, parecendo um pouco sem sentido. Entretanto parafraseando Germain em determinada cena do filme: "Sabe qual é o segredo de um bom final? O leitor precisa pensar 'Não esperava por isso e ao mesmo tempo era o único modo de terminar'". O leitor aqui pode ser facilmente compreendido como telespectador, afinal Germain não ditava Claude a escrever a história e sim como conduzi-la, fazendo do filme quase metalinguístico. O final foi de fato inesperado e talvez, realmente, era o único modo de terminar.
Espero que tenham se interessado pelo filme, pois a película é excelente e realmente vale a pena. Abaixo , um trailer do filme (apesar de ser bem instigante, o trailer mostra uma cena-spoiler bem deliciosa de se descobrir, portanto, assista por sua própria conta e risco). Até a próxima :D